quinta-feira, maio 29, 2008

Histórias da minha aldeia…
Faz, mais ou menos, dois anos que deixei a minha cidade para uma aldeia perto do mar, a 10km (7 minutos) do Porto. A distância física é curta mas bem longa social e culturalmente falando.

Na rua da minha cidade, nos dias seguintes a um dia qualquer, comentavam-se acidentes de automóvel, assaltos a supermercados, farmácias ou cafés. Falava-se no Tatanca, que, mais uma vez, tinha sido preso por agressão a um árbitro no Bessa. Falava-se do puto que lhe morreu a mãe e que entretanto fugiu de casa porque arranjou sustento, lá para os lados do ilegal. Comentava-se a pancadaria à porta do café, mesmo ao lado da esquadra da polícia. Falava-se, há uns anos já, sobre os ensaios dos GNR e das suas amigas, uma das quais a tal Ana Lee, e das loucuras que se passavam naquela garagem.

Na rua da minha aldeia, fala-se do padre e dos preparativos para a festa da Nossa Senhora da Conceição. Colocam-se pasquins, em todos os estabelecimentos, que anunciam festas e funerais. Fala-se do Quim, que voltou de França mas que não trouxe nadinha e à mulher que cá deixou só enviou dificuldades. No mercado e no café, juntamente com todos os palavrões da língua portuguesa, toca a novena da Rádio Renascença e fala-se, por vezes em francês, das derrotas do Benfica e do Leixões, da chuva que estragou o cultivo e da greve de pescadores. Mas ontem foi diferente, ontem falava-se da galinha de cabeça cortada, do sangue e do sal espalhado pela porta do veterinário, falava-se da polícia. Fizeram-se conjecturas sobre o autor do crime, uns diziam que foi o R. da pitanga que lhe tinha morrido o cão, outros que foi a M. dos pinhais porque o marido não desampara a clínica. Entretanto, o meu pai, que passou por lá, viu a galinha e mudou de ideias, acha, agora ,que estou mais segura na cidade entre acidentes e delinquentes. Será?

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